quinta-feira, 13 de maio de 2010

A harmonia no ambiente escolar

A harmonia no ambiente escolar

por Gabriel Chalita

27 de janeiro de 2010


Cecília Meireles, em sua saborosa poética, assim escreve: "Ensinar é acordar a criatura humana dessa espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhes a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação - mas por uma contemplação poética, afetuosa e participante."

Quando se lê a educação com esse olhar de Cecília, parece que o dia a dia na relação professor-aluno é encantado. Muitos dirão que essa elevação afetiva só funciona no plano das idéias e que, na prática, se assiste a um aviltante processo de destruição das relações humanas.

A violência nas escolas se materializa em agressões verbais e físicas. É a prática do bullying que destrói as relações e os seres humanos. O professor se sente vítima de um sistema que não o valoriza, portanto não o entende bem, nem o protege. Os alunos parecem prontos para a batalha. Padecem de amor e de limites. A ausência familiar se faz sentir na postura agressiva ou apatia em sala de aula.

Além disso, e talvez por isso, tentam disputar poder com os professores que, por sua vez, se deixam levar em um debate desnecessário. Há um axioma essencial na relação entre professor e aluno: autoridade harmonizada pelo afeto. O aluno precisa de limite e precisa compreender o papel do educador. O educador não pode impor sua autoridade, mas deve conquistá-la. Sem brigas nem ameaças. Sem histeria nem parcimônia. Com o respeito de quem sabe ensinar e aprender e de quem harmoniza as relações.

É imprescindível o resgate das relações harmoniosas no universo escolar. Evidentemente, são a experiência e a disposição do professor que farão com que ele toque na alma do seu aluno - sem isso não há educação. Alguns cuidados em nossas atitudes são de extrema importância. O primeiro deles é que professor não brigue com aluno, mesmo que tenha razão. Se isso acontecer, parte da sala torcerá pelo aluno e a outra pelo professor, assim, ele deixa de ser referencial. Um segundo cuidado seria o professor não colocar apelido em aluno. Outra precaução seria a de não comparar um com o outro - é preciso lembrar que não há homogeneidade no processo educativo, mas heterogeneidade. E, por último, o professor não pode se mostrar arrogante nem subserviente. O meio termo é amoroso.

E aí voltamos à Cecília Meireles. A harmonia no ambiente escolar há de ocorrer quando se consegue quebrar a carcaça que envolve alguns alunos, pela falta de algo que deveria ter vindo antes. É esse sonambulismo, essa postura incorreta frente à vida e frente a si mesmo.

Trata-se de ajudá-lo a viver essa contemplação poética, ou, em termos aristotélicos, a buscar uma aspiração para a vida. Ou ainda, em Paulo Freire, ajudá-los a desenvolver autonomia para sonhar.

Aí sim, o professor mostrará autoridade. Autoridade generosa de quem confia e cobra. De quem educa pelo exemplo, pelo respeito, pela admiração de seus alunos. E é nesse bom caminho que entra o afeto como instrumento de poder e participação. É do olhar do mestre que saem essas virtudes. O olhar que acolhe e que constrange quando necessário. O olhar que se faz cúmplice nas boas conquistas e que lamenta docemente pelo que se perdeu. O olhar que mantém o silêncio na sala de aula, sem gritos ou lamentações, mas que é capaz de chorar pela emoção de mais um aprendiz que encontrou seu caminho.

A harmonia no ambiente escolar não é uma utopia. É talvez uma tarefa complexa que exige o que de melhor podem dar os educadores: competência, coragem e muito, muito amor!

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